terça-feira, 25 de setembro de 2012

"Vai e também tu faz o mesmo" - A vivência dos "quartos dias"

“Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele homem que caiu nas mãos dos salteadores? O doutor da lei respondeu: O que teve compaixão dele. Disse-lhe Jesus: Então vai e faz o mesmo”. (Lc 10, 36s) 

Jesus conta a parábola do Bom Samaritano para responder a duas perguntas: a primeira sobre a vida eterna e a segunda sobre quem é o próximo. Ao final da narrativa, Jesus pergunta ao doutor da lei qual foi o próximo do homem que foi deixado meio morto pelos ladrões. Diante da resposta do doutor da lei, o convite: “Vai e faz o mesmo”! 

O diálogo de Jesus vai gradativamente envolvendo o doutor da lei, de forma que ele possa tirar as suas próprias conclusões. Jesus nunca deu o “peixe pronto” pra ninguém, mas sempre dá a “vara de pescar”. 

Estamos chegando ao final do nosso retiro anual, que constitui uma oportunidade de inserirmos a nossa vida matrimonial e a nossa vida de casal equipista nos planos e nas mãos de Deus que nos ama. Um retiro é sempre um sinal de Deus, por isso um sacramento! E na Igreja, todo sacramento exige de nós um comprometimento. 

Esses três dias que aqui passamos deve ser ao mesmo tempo um convite e um incentivo, a fim de vivermos os outros dias, os “quartos dias”, procurando atender ao convite que Jesus nos faz de irmos e fazemos o mesmo que fizera o samaritano. 

Imaginemos o caminho de conversão e de aceitação que teve de ser percorrido por aquele doutor da Lei e por todos os judeus que escutaram a parábola de Jesus, para acolherem e aceitarem as palavras de Jesus, que colocava um samaritano, um impuro, como um exemplo a ser seguido! Jesus é sempre surpreendente em suas palavras e atitudes, à medida que ele inova e mostra a vontade do Pai. O hino do XI Encontro Internacional das Equipes de Nossa Senhora nos diz: “Ousar o Evangelho é ir além do programado! Ousar o Evangelho é acolher o inesperado”! 

Acolher o convite que nos fez Jesus é ser como o samaritano: alguém que vê com os olhos do coração e por isso sente compaixão, as suas entranhas doem e apertam diante do sofrimento humano. Tal compaixão o faz colocar a vida humana acima de qualquer lei ou ameaça contra a pureza, o faz superar o medo de ter o mesmo destino daquele infeliz moribundo. E não para por aí: o samaritano cuida de toda a logística e da recuperação da saúde deste homem desconhecido, deixado meio morto pelos salteadores e abandonado por um sacerdote e um levita: “Depois colocou o homem em seu próprio animal e o levou a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata, e as entregou ao dono da pensão recomendando: Tome conta dele. Quando eu voltar, vou pagar o que ele tiver gasto a mais” (Lc 10, 34s). 

Atrevo-me a fazer um paralelo entre o pedido de Maria aos que serviam, nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2, 5) e o que diz Jesus ao doutor a lei e a cada um de nós hoje: “Vai e também tu faz o mesmo” (Lc 10, 37). Maria, a primeira cristã e a pioneira no processo de internalização dos ensinamentos e da missão de Jesus, nos exorta para que o obedeçamos; e Jesus nos pede que façamos o mesmo que fez o samaritano: amemos sem medida. O amor verdadeiro é o amor desprendido de interesse ou de qualquer preconceito ou medo! Jesus quer que ao menos nos coloquemos na condição de aprendizes na escola aonde ele é o grande mestre e a sublime lição é o amor sem medidas! 

Fazer o mesmo que fez o Samaritano, o mesmo que fez Jesus Cristo, constitui um imperativo que compete a nós não somente pela condição de casais equipistas, mas principal e fundamentalmente porque somos consagrados a Deus no batismo, além de anunciadores e destinatários do seu Reino! 

Há um campo muito vasto a ser semeado: o mundo, a Igreja! Há uma infinidade de pessoas que almejam abraçar o sacramento do matrimônio com disposição e preparo. Há porém pessoas que abraçam o matrimônio por necessidade ou porque as circunstâncias as forçam: uma gravidez, o desejo de uma maior liberdade etc. 

Há pessoas infelizes em seus matrimônios, que são agredidas e/ou traídas e humilhadas pelos seus parceiros. Há pessoas que vivem juntas sem terem abraçado o sacramento do matrimônio. Há pessoas que vivem em segunda união estável. Há pessoas do mesmo sexo que vivem juntas, reclamando o direito de serem chamados e reconhecidos como esposos! Falta amor, falta perdão, falta a paz! E onde estamos nós diante deste mundo que grita por ajuda? 

Como sabiamente nos disse o Cardeal Carlo Maria Martini, de saudosa memória: “Embora as Equipes de Nossa Senhora não seja um movimento de ação, quer ser um movimento de gente ativa”. Aqui está a essência e a adaptação do convite de “fazer o mesmo”, direcionado para o nosso movimento: um movimento de pessoas ativas! 

A santificação do casal é o ponto de chegada que almejamos. Porém, não devemos incorrer no mesmo erro dos adeptos da reforma protestante, no início da Idade Moderna, que distorceram o conceito de salvação, associando-a simplesmente à fé e desvinculada das obras! 

É claro que não somos salvos pelo que fazemos! A salvação é um conceito universal, ou seja, para todos; e vem a nós pela infinita bondade de Deus, e não porque sejamos bons! Porém, o nosso agir, o nosso “fazer o bem” deve ser o fruto de nossa convicção da presença de Deus na nossa vida! O “fazer o mesmo” deve ser encarado como a conseqüência de nossa inserção no processo de salvação, e não a causa! 

A santidade passa pela nossa ação para mudar a vida do nosso próximo! É muito triste constatar que muitas equipes de base desviam ou adaptam de acordo com suas necessidades e comodidades este imperativo radical, esvaziando o conceito de santidade conjugal e desvinculando-a do serviço ao próximo, aos necessitados! 

Enquanto casal cristão, como anda a nossa vida apostólica na Igreja de Jesus Cristo? – há pastorais específicas para o sacramento do matrimônio e para a família, bem como há serviços pastorais que podemos realizar em nossas paróquias enquanto casal: pastoral dos noivos, pastoral familiar, ministros da sagrada comunhão, pastoral da saúde, pastoral catequética etc. 

Não é a nossa intenção encerrar o assunto e as reflexões acerca de tão bela e rica parábola contada pelo nosso Salvador Jesus Cristo! Todavia, nunca é demais reforçarmos o apelo à santidade ativa enquanto casais equipistas. Não foi à toa que todas as palestras e reflexões do XI Encontro Internacional do Movimento insistia nesta questão, através das palavras dos conferencistas e dos testemunhos dos casais! 

Vamos e também nós façamos o mesmo! O horizonte é vasto e há muito a ser feito e contemplado! Há muito nevoeiro encobrindo as cores fortes do horizonte belo que Deus nos prepara! A esperança é o nosso combustível, a Igreja o nosso meio de transporte, o Cristo, a nossa inspiração e fundamento! 

Obrigado por tudo! O meu carinho e bênção: 

Pe. Samuel Alves Cruz, sds 
SCE Equipe 7B - Jundiaí/SP 

*Texto usado no Retiro Anual das ENS Jundiaí (14 a 16 de Setembro de 2012)

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